junho 26, 2012

23:00

Compreenda...

Eu compreendo.

Me escute...

Eu te escuto.

Desista de mim!

Não. Eu não desistirei de você.

Por que?

Porque amar é assim.
Porque cansei de fugir.
O ciclo cicla o círculo do sofrimento
Cansei de ser vítima de mentiras.
Cansei de ser mentir as tuas mentiras.
Cansei de enxergar o que tu não enxergas.
Cansei de me cegar pelo teu momento.
Cansei de escutar o teu lamento.

Me ouça!
Não lamento o momento do seu sofrimento.
Lamento não querer sofrer desse seu momento.
Você é uma boa pessoa e eu também quero ser.
Ser fraca, já não quero ser.
Não sei para onde fugir, nem como crescer.
Quero a maturidade mais madura.
Sei que a rapadura é chamada assim porque é dura.
A dureza e a fraqueza não são sinônimos.
Tampouco quero que nossos sentimentos sejam antônimos.
Quero viver uma vida sem cutucar aquela velha ferida.
Quero um dia depois de amanha e pronto.

Lamento dizer que lamento ouvir as palavras ditas.
Lamento também as nossas ligações rompidas.
Nossos momentos não surgiram para serem apenas momentos.
Prometi a mim mesmo que momentos são para serem vividos.
Prometi não desistir de ti nem com um milhão de pedidos.
Prometi que iria lhe mostrar/falar o lado bom da vida.
Não esqueça que a vida nasceu para ser vivida.
Cautelas e mais cautelas só vão lhe trazer sequelas.
Você é capaz de amar de novo.
E eu, de novo, quero amar.
O meu futuro é incerto.
O seu futuro é incerto.
Mas estou certo de uma certeza:
Amanhã quero estar contigo,
E no dia depois de amanhã quero que você esteja comigo,
Sem medo, sem terror.

Mas eu ainda tenho medo...

Medo também tenho.
Tenho medo de ter medo de estar errado.
Sei que não estou.
Sei que ainda há tempo para voltar atrás do pedido,
Não acha?

Não sei. Talvez. Quem sabe?

Tudo bem, então. Te espero às 23:00.



                                                                                         Eduardo Mulato do Vale

junho 24, 2012

Café com Açúcar

Depositado em uma xícara,
O negro vem derramado,
O amargo, manifestado;
O cheiro, atiçado.

Adocicado em uma xícara,
O negro contrasta com o branco;
O negro escurece o branco;
O branco some com o negro.

Melado em uma xícara,
A mancha mancha a vida.
A mancha mancha a história.
A mancha mancha...


                                                                                      Eduardo Mulato

junho 23, 2012

Relato de uma chuva.

     Lágrimas escorrem sobre a face da garota. O dia anoiteceu e não se viu o crepúsculo. A felicidade vai se esvaindo visivelmente. A dor a incomoda, a pune, a apedreja, a penitencia.
     Olha para mim com a boca. Seus olhos já não se apresentam orbitados na nossa órbita. A sua essência já não jaz; o seu brilho, desalumiado está.
     Pergunto se está bem. Ela não responde, não esboça nenhuma feição, nem um singelo sorriso.
     Agora chove. Será esta uma tristeza tão intensa que até as nuvens choram? Serão elas tão amigas que não querem mostrar o quanto a garota é frágil? Não se sabe mais o que é lágrima ou o que é água.
     Não me sinto bem em ficar vendo ela encarar-me com todos os outros sentidos e não com a visão. Sinto vontade de dar toda a minha alegria, ou pelo menos a minha paz, para ela. Chego mais perto e sussurro:
     -Você quer a minha alegria?
     Ela simplesmente me abraça e põe a cabeça contra o meu peito, acenando positivamente com ela. Continua a chorar. Dou uma pequena risada e logo a tristeza me invade de vez.





                                                                                        Eduardo Mulato do Vale

junho 21, 2012

Angústia

     Luz apaga... Luz acende... Luz apaga... Luz acende... Há momentos que acho o fato de existir uma verdadeira perda de tempo. Momentos que foram singulares por no máximo cinco minutos, ainda com um espírito otimista, assumo que, hoje, os visualizo e percebo que não passam de tempos efêmeros, que trouxeram micelas de felicidade. Apenas micelas.
     Caso tentasse caminhar por uma rua, sentiria a vulgaridade dos meus passos e a futilidade dos meus pensamentos. Caso tentasse sentar no meio-fio de uma calçada e encostar a cabeça em um poste de luz fétido, odorizado por urina de humanos e de bichos, logo tentaria esvaziar a mente, pensar no branco, sem necessitar acionar a minhas psicoses. Nada consigo. Minhas pernas não andaram pela calçada, rastejaram-se. Não esvaziei a mente ao encostar em um poste, inundei-me em medos e angústias.
      Vivo por opção. Vivo por quererem que eu viva. Lembro-me da pressão exercida pelas dentes de serrar de uma faca sobre o meu pulso. No momento, tudo era negro, insosso, descabível de significações. No entanto, senti pela primeira vez minhas angústias se misturarem a minha paz.
      Dou gargalhadas como dei naquela época. Olho para um lado e para o outro. Ouço sussurros incessáveis. Sinto que está piorando. Tudo! Saia desse ser... Saia de si... Saia desse ser... Saia de si.
      A luz acendeu. A luz apagou. A luz desalumiou-se...



                                                   Eduardo Mulato do Vale

junho 02, 2012

Sinfonia



Aperte o "play" e leia junto com a música.


A leveza de uma sinfonia, a placidez de um rosto, a sutileza de uma mulher... Isso me apaixona.
Posso viver em um tempo diferente, em um momento diferente, mas vivo com a certeza do meu significado. Não adianta desafiar a realidade.
Caminho sob a chuva, passo por luminárias belle epoquianas, por bancos simples de madeira encharcada, e ainda ouço a sinfonia. Meu andar são palpitações. Olho-te como se fosse um sonho.
Beijo-te. Sou imortal. Esfacelo-me... Dissolvo-me. Lábios açucarados, pele feita da mais nobre seda, olhos que me tiram cada segundo dessa vida mortal e imortal, momentaneamente.
Ah... O prazer da imortalidade. Ah... O prazer em conhecer-te. Conhece-me? Escute a sinfonia, sinta a leveza. Dance. Mexa-se com a leveza que tu tens. Feche seus olhos e apenas sinta o quanto você pode não ser você.
A música pode acabar. A minha imortalidade pode acabar. O sentimento transformar-se-á; a criatividade, encerrará; e o momento, eterno será.




                                                   Eduardo Mulato do Vale